quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

A influência do amor

Estou lendo "A menina que roubava livros" e me deliciando com a descrição do cheiro de seu pai adotivo, Hans Hubermann. Seu cheiro, querosene misturado com tintas e cigarros, tem o cheiro da amizade...
Esse trecho é particularmente doce e importante pra mim porque lembro do cheiro do meu pai. Eu também costumava fazer xixi (na rede, não na cama) e quando subia sorrateiramente na rede dele, seu cheiro era de cigarros misturados com bombom pipper. Essa mistura de aromas traz lembranças maravilhosas da minha infância...
Pensar nisso, leva-me a questionar que cheiros povoaria as memórias de um possível filho meu? Essa cadeia de hipertextos vai mais longe, ela puxa uma questão crucial para mim: a possibilidade de ter uma família.
Um parêntese:
(Meus amigos mais próximos sabem que sou homossexual. Digo isso para contextualizar a patente dificuldade que enfrentamos nesse tocante: o direito de ser pai/mãe. Puxo essas questões porque gosto de politizar as pessoas, levá-las a buscar novas ideias. Sou um ser político, preocupo-me cada vez mais com o rumo que posso dar à minha vida e a dos que estão “próximos” à mim. Quando não consigo convencer por meio de argumentos factuais, apelo para o coração. Acredito muito no poder da afetividade para a construção do conhecimento. Afinal, quem consegue penetrar corações endurecidos?).
Bem, já ouvi bons amigos dizer que aceitam a união civil de homossexuais, mas têm reservas quanto à adoção de crianças. Se preocupam com a influência sobre a sexualidade dos pequenos. Aqui, não vou entrar no complexo de édipo da psicologia, tampouco na questão genética, muito menos ainda no discurso de naturalidade das religiões cristãs. Interessa-me apenas questionar: “Por que trocar a parte pelo todo”?! Até quando pessoas homossexuais, seres altamente complexos, assim como a pessoa humana, continuarão a ser vistos a partir da dimensão sexual?
Se eu não consigo convencer que SER ou NÃO SER homossexual não é o mais importante, tento através desse texto, desse ato político, mostrar outras coisas que somos: somos seres com crises existencias, planos, sonhos. Temos medos, anseios, amor, raiva, desejos. Passamos pelos mesmos problemas que todo mundo passa. E mais, utilizamos das mesma forma todo o aprendizado repassado por nossos pais para lidar com nossos dilemas. A educação, a construção do nosso caráter, da personalidade, de nossas crenças, o projeto de vida; todas essas questões sofrem a influência de nossos pais.
Então pergunto: sendo o que somos, passando pelos mesmos processos de apropriação e aprendizagem, a única coisa que conseguiríamos influenciar em nossos filhos seria a sexualidade?

Por Francisco Maurício.

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