terça-feira, 8 de abril de 2014

Arco-íris de concreto

Certa vez, uma criança resolveu partir numa jornada ao topo de uma longínqua montanha. Lá, havia uma luz brilhante. Todas as pessoas que conhecia havia partido para buscá-la. E nunca voltavam. A criança tinha medo, mas ficar onde estava não era uma opção. Uma lenda dizia que se não fosse, morreria. Ela partiu. No caminho, encontrou os rastros coloridos de algumas pessoas. Outros, subitamente sumiam no ar. Também havia construções: pontes, trampolins, escadas, contudo, nada que a coubesse. Decidiu usar o que já tinha visto como referência e foi construindo suas próprias pontes a cada abismo que encontrava. Fazia uns ajustes aqui, outros ali. Fez alguns maiores para facilitar a jornada dos outros que viriam depois dela. Até que um dia chegou à luz. Para sua surpresa, já estava bastante velha. E a luz, nada mais era que uma rede "preguiçosa" com uma inscrição bem grande em cima: DESCANSE EM PAZ. A única coisa que precisava para deitar naquele trono glorioso era mostrar o seu rastro. Grande foi a sua surpresa quando descobriu que não tinha construído o seu. Na verdade, adormecera e fora carregada por alguns outros "bondosos". Ah, se eles soubessem... Teriam acordado-a. Tudo o que viu e construiu não passava de sonhos. Só lhe restou deitar no chão e lamentar-se até apagar...



Na aula de Ciência Política, alguém quis saber porque os filósofos gregos buscavam tanto um fim último para a nossa existência? Ora, apenas existimos. Conjecturou-se.
Preocupado com a possibilidade de instalar uma crise existencial em seus alunos, o professor aconselhou: é importante que vocês tenham um projeto de vida.
Na outra aula descobrimos que o fim último de nossa existência, para os cabeções da Grécia Antiga, era a felicidade.
A questão do "projeto de vida" já é algo que preocupa até o Estado. Há oficinas disso.
Por outro lado, há quem argumente que nossas crianças são educadas para o sucesso na academia, no trabalho, mas não para a felicidade. Também concordo. O ensino nas escolas, faculdades, cursos profissionalizantes são cumulativos e extremamente tecnicistas (essa é só uma deixa para defender o ensino de Ciências Sociais e Filosofia nas escolas. rss). 
Até parece que ter uma carreira e acumular riquezas seja o ideal de felicidade para todo o mundo. 
É o que o capitalismo prega, não é? Mas não vou mexer nesse vespeiro no momento.
Não sou nenhum hippie bonachão. Eu sei que o dinheiro é importante. Principalmente para quem vive em grandes cidades, dedicando-se a uma infinidades de tarefas e modos de vida que nos impediria de plantar a própria comida ou costurar folhinhas de parreira.
Contudo, a lógica da eficiência científica não toca por igual todos os "corações".
Aliás, pressinto que toca cada vez menos.
Estaríamos caminhando para um estado anômico globalizado?
Suponho que precisemos aceitar (e buscar) outros modos de vida possíveis.
Essa busca da felicidade, da ética, do bem viver, realizada pela filosofia, estudada pelas Ciências Sociais, talvez se reatualizem.
Os pais não o fazem mais. A família, a igreja, num estado secularizado não são mais referência de tradição. Vivemos uma crise de sentidos.
A indústria farmacêutica não dará conta de tantos depressivos e desnorteados.
No meu modo otimista de ser, acredito nas curvas da humanidade diante do despenhadeiro.
Por mais que a busca pela felicidade e pelo bem sejam subjetivos, creio que pluralizar os caminhos aumentam as oportunidades de os alcançar.
Falando nisso, a história, a física quântica, nossa vida particular, mostram que a pluralidade de caminhos e possibilidades é o que mais há.
Contudo, igualmente mostram que somente o escolhido é o que existe.
Por mais que você não tenha escolhido nascer, é fruto da decisão de duas pessoas que resolveram transar. Ponto final.
Logo, é importante sim que tenhamos isso em mente.
Precisamos ir construindo nossos castelos, finalizando projetos.
Não precisa ser algo na lógica capitalista. Dentro do "sistema". rs
Construir "qualquer coisa" não impede que, lá frente, decidamos construir "alguma coisa" mais substancial.
O que parece meio óbvio (tenho medo dessa palavra) é que uma vida só de sonhos e projetos inacabados não será mais do que isso: quereres nunca realizados.


2 comentários:

  1. Putz..super conveniente.
    Continuas escrevendo tuas ideias, Mau, são boas reflexões...
    Parabéns!

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  2. Obrigado pelo incentivo queridíssima!
    Receber um elogio de uma artista talentosa e poderosa como você é de deixar o ego oh: fica deste tamanhão! rss
    Um bjo!

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